29.5.12

Sábado à noite em Madri é fiesta

Um sábado à noite em Madri pode ser uma daqueles dias que entrará para a caixa de memória das coisas boa da vida. O povo ali gosta como ninguém de fiesta.
Era quase 9 da noite e termômetro no Centro da cidade marcava 36°C. Deixamos Dublin às duas da tarde com seus mizeros 8°C.  Bons indícios de que era sábado e a noite um niña.
A primeira atração da lista era o novo show do grupo Los Vivancos, Aeternum, no Teatro Alcala, no bairro Salamanca.
               
No espetáculo de dança fusion uma mescla de movimentos contemporâneos com o velho e bom flamenco, embalados por uma eletrizante trilha sonora.  Os sete irmãos são fenômeno de crítica e público no país e desde 2007 lotam teatros com seus sapateados e gingado. Comprei os bilhetes pelo site entradas.com a 12 euros cada.

Entusiasmados pela energia do grupo desembarcamos em Malasaña para viver a movida que havia planejado.
A Plaza Dois de Mayo, lugar de reunião da rapaziada para beber cerveja sentados no chão desde época do movimento, estava lotada.

A região, depois de decair na década de 90 ,resurge e virou hype outra vez.
Como a ideia em Madri é o tapeo ou petiscar fomos a Cervecería Saltón para forrar o estômago. Calamares, batata ao alho e óleo e cerveja foi o menu.  Enquanto esperávamos fatias de pão com presunto ibérico e azeite extra virgem abria os caminhos.

Calamares é o petisco mais famoso na cidade

 O ambiente de boteco, com gente gargalhando na mesa ao lado e banheiro sujo era tudo que eu queria.
Cervecería Saltón
Malasaña fica logo depois da Chueca. Na verdade, as ruelas de predas lotadas de bares e gente dos dois bairros se misturam e as delimitações geográficas ficam invisíveis, principalmente, se somar o teor etílico que se faz presente no sangue.
A fiesta  mesmo começou no Tupperware. Os dois andares do bar estavam lotados. A decoração  meia psicodélica e divertida faz o ambiente ser ainda mais agradável. Na pista muito indie rock.



Sem perder o ritmo passei no Via Láctea que, junto com o El Penta, são as “baladas” da movida original que sobrevivem até hoje.  Dois super clássicos da noite e imperdíveis para ver quarentões se misturem a jovens com todos os tipos de cabelo e tatuagem aos mauricinhos e patricinhas.


Havia pesquisado bastante e sabia que no Penta a música era o ponto forte. Mas lá dentro a emoção toma conta. O local é bem pequeno, nas paredes fotos das bandas e de personalidades que ajudaram a construir o cenário cultural do país dão um clima de autenticidade. A menina que serve as bebidas no único bar, nem liga para os famintos por mais uma cerveja e canta enquanto corre de uma lado pro outro. Na pista gente que estava ali com e para os amigos, para ouvir as músicas que todos, sem exceção, sabiam de cor e salteado.
Eu, balançava a cabeça, erguia minha cerveja pro alto como quem diz tim tim e viva a movida! Obrigado Almodóvar por me trazer aqui!

No caminho de volta pro hotel tomei mais uma cerveja comprada dos muitos chineses que enfrentam o sono vendendo a bebida por 1 euro. Comi a fatia de pizza que pedi pra viagem no taxi e fui dormir com a Chica de Ayer na cabeça (umas das músicas mais famaso do país, escrita por Antonio Vega, da banda oitentista Nacha pop, um hino que encerra a noite no El Penta).



                  


Mapeando
Vía Láctea - Calle de Velarde, 18. Madrid
El Penta - Calle de la Palma, 4. Madrid
Tupperware - Corredera Alta San Pablo,26. Madrid
Cervecería Saltón - Corredera Alta San Pablo, 8. Madrid

28.5.12

Madri de Ryanair por € 62

Destino na cabeça, próximo passo checar passagens. Vasculhei todos os meus sites de busca e, como sempre, a Ryanair imbatível: Ida e volta por 62 euros. Fechado e sem reclamar das poltronas apertadas, da fila de duas horas para o embarque, da venda de produtos desmedida durante o voo e da bagunça generalizada, afinal, trechos de até três horas não tem problema nenhum para mim.
Antes de comprar a passagem, pesquisei no booking.com a média de preços dos hotéis e no site do aeroporto quais seriam os valores com translado aeroporto-hotel-aeroporto e com isso teria 60% dos custos da viagem.  Duzentos e quinze euros era o total até então para uma viagem de sexta a terça, com hospedagem em hotel quatro estrelas no triângulo cultural, que, segundo os comentários no site era a localização perfeita, e de quebra no final de semana da festa de São Isidoro, o padroeira da cidade. Feito!

Minha irmã aceitou meu convite e dia 12 às 17h desembarcamos no T1 do aeroporto de Barajas. Imigração mais que tranquila e bem na saída do terminal pegamos o Airport Express Bus por 5 euros que nos deixou na Estação Atocha do ladinho do Hotel. Além dessa parada tem outras duas: uma no Bairro de Salamanca e outra na Plaza Cibele, bem no Centrão. O trajeto foi feito em 45 minutos e o ônibus passa de 15 em 15 minutos durante o dia e cada 35 depois das

27.5.12

Fale com Madri

Depois de mais de três anos circulando pelo continente europeu e com bandeira fincada em Dublin, resolvi dar um irmão ao Clube do Bem e criei o Clube dos Mapas.
Aqui conto meus truques para viajar bem sem gastar muito e de quebra se sentir como um nativo. Já são mais de vinte mapas riscados e vasculhados Europa afora e muitas estórias que me transformam assim que dobro aquela esquina que não estava no meu mapa.
E para cortar a fita com tesoura de ouro nada melhor que abrir mais um mapa e sair procurando pelo Norte.
E que cidade seria perfeita?
Sem hesitação Madri veio a cabeça na hora.
Sempre tive uma relação de amor com a capital espanhola mesmo antes de conhecê-la e a culpa é do Almodóvar.  O primeiro filme que assisti do diretor foi Fale com Ela na Casa de Cultura Mario Quintana, no centro de Porto Alegre, em 2002. Adorei aquelas identidades múltiplas, cheia de cor, dor e uma alegria safada e filmes dentro dos filmes.
"Fale com Ela" Pedro Almodóvar (2002). Foto divulgação

Nas semanas seguintes fiz sessões duplas até que cai na Lei do Desejo de 1987.
Voltei à CCMQ em 2004 pra ver Má Educação – meu favorito, e logo nos primeiros 15 minutos de filme três ou quatro deixaram a sala e eu achei aquilo um dos ápices que um cineasta pode alcançar. Almodóvar eu te amo, pensei!

Pensei também que queria ir a Madri e sentir aquela energia, ver aquelas cores, mesmo que como em "Meia Noite em Paris", no mundo dos meus sonhos e viver naquela época.  Nesse caso na movida, a explosão boêmia, cultural e artística que se seguiu ao fim da ditadura franquista e que rendeu as primeiras montagens do malucão.
Meu roteiro madrilhenho foi feito para absorver um pouco da velha movida.