14.8.12

Croácia: um pedaço do paraíso. Parte I - Zadar

A Croácia continua sendo um tesouro a ser descoberto. Nem mesmo a invasão turística dos últimos anos, que tem mudado a cara e os preços do país que usou do privilégio de ter o mar Adriático no quintal, prejudicou cantinhos perfeitos para quem busca sombra e água fresca.

Antiga província romana e nação independente depois da sangrenta guerra da Bósnia, conflito entre sérvios, croatas e muçulmanos que dizimou mais de 200 mil pessoas e terminou em 1995; cheia de graça continua uma ninfeta e point no verão europeu.

Mas também pudera, com mais de 1200 ilhas no cardápio fica fácil virar queridinha. E se escolher entre duas já é difícil quanto mais entre 1246. Mas todos os caminhos levam a belíssima Dalmácia, a região litorânea, com 375 km de águas de um azul singular e turisticamente equipada.

Abro meu mapa croata e te conto meus cinco dias pulando de barco em barco e de ônibus em ônibus nesse pedaço de paraíso.

Zadar – Saudação ao Sol

A charmosa Zadar, uma cidadezinha com mais de 3000 mil anos de história, localizada no Norte da Costa, é um dos portões de entrada para a região da Dalmácia.



Cheguei ao Centro Velho, uma península cercada por muralhas venezianas fácil de ser percorrido a pé, com um roteiro de um dia a ser cumprido.

Clube dos Mapas

Comecei pela praça principal Zeleni trg onde crianças brincavam no que restou das muralhas de um antigo fórum romano e os adultos colocavam a conversa em dia nos bares ao redor tomando o Maraschino, um licor local com receita secreta com mais de cinco séculos ou a cerveja mais famosa do país a Karlovačka.

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Praça Zeleni com a Igreja de São Donato

No centro da praça a igreja bizantina São Donato atrai a atenção por suas formas cilíndricas e pela vista panorâmica que oferece do campanário (10 kunas).
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Avendia Kalegarga vista do campanário

A Igreja e o Monastério de Santa Maria também estão por ali e fazem vizinhança com o Museu arqueológico .

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Igreja e Monastério de Santa Maria com as ruínas de um antigo Fórum Romano
A Kalegarga, a mais agitada avenida do Centro, oferece um leque completo: de artes, passando por compras e acabando por ser fisgado a entrar em uma das ruelas de pedras brilhosas e cair de boca numa gigante fatia de pizza recém saída do forno.

Por estar colada a costa Almafitana na Itália, a Dalmácia, traz na sua culinária fortes influências daquele país. Por todo o Centro o cheiro de pizza ou calzone saindo do forno a preço de trocados é de matar.

Pra começar os trabalhos gastronômicos – engorda leão: suco de frutas locais com calzone de queijo e uma espécie de presunto parma local dessalgado.

Para aliviar o peso da boquinha uma volta pela zona da universidade que é cercada de cafés, bares e restaurantes. E depois, atravessar o Portão da Terra para tirar algumas fotos na Praça das Cincos Rodas e no Parque Vladimira.

Praça das Cinco Rodas

Costeando o mar fui até a Marina e depois  cruzei a ponte rumo ao continente e uma região mais residencial se apresentou. Uma entrada no supermercado pra ver o que tinha de bom e com a sacola cheia de biscoitos e queijos fui ver o grande show do dia.

Porque é no calçadão à beira-mar que Zadar oferece seu melhor: o pôr do sol.



O fim de tarde na cidade é momento de celebração, tanto, que em 2005, o arquiteto Nikola Basic, produziu o monumento artístico chamado Saudação ao Sol, na qual 300 placas solares absorvem a energia do astro durante o dia e as transformam numa linda dança de cores à noite.

Monumento Saudação ao Sol recebendo su fonte de energia
Monumento Saudação ao Sol

Monumento Saudação ao Sol à noite
Se quiser dançar o Órgão Marítimo, do mesmo artista, bem ali do ladinho, emite sons produzidos pelos movimentos das ondas que entram nos tubos construídos nos degraus à beira-mar.

Orgão Marítimo


Mapeando

Quem leva – voei de Ryanair de Dublin a €40 retorno. A companhia não opera mais esta rota desde o início do ano. De Londres várias empresas low cost te levam até o mar Adriático.
Não existem voos diretos do Brasil, as conexões acontecerão em países como Inglaterra, Portugal, Alemanha, França ou Holanda. De qualquer um desses lugares empresa low cost voam para a Croácia.


Saindo e voltando do e para o aeroporto - Pra sair do pequeno aeroporto de Zadar, distante do Centro uns 20 minutos, você pode tomar um ônibus por 25 kunas cada trajeto até o antigo terminal velho que fica no centro, mais distante do “centrão” uns 15 minutos caminhando. Pode ainda pegar um taxi, que foi minha opção na volta por aproximadamente 20 euros (o que vale a pena se você não for viajante individual) ou ainda de transfer oferecido por muitos hotéis (minha opção na ida que agendei por e-mail sem custo adicional).


Moeda - A moeda local é a Kuna que equivale a mais ou menos treze centavos de euro. A cotação na cidade foi melhor que em Dublin, vale checar antes. A partir de 01 de julho de 2013  (só acredtio vendo) o euro entra em vigor como medida da adesão do país a Comunidade Européia.


Idioma – O croata é a língua local. Tão difícil de pronunciar quanto qualquer outra língua dos países mais ao Leste no Continente. O inglês é bem falado nos pontos mais movimentados e a maioria dos restaurantes têm menu bilíngue e nos bares os jovens todos se viram.


Onde festar – Tinha apenas uma única noite em Zadar, portanto, a ideia era aproveitar o máximo. Depois de curtir a dança das cores no monumento Saudação ao Sol e jantar numa magnífica cantina que conto já já, percorri a região entre as ruas Stomorica e Blaza Jurjeva - zona de bares e restaurantes ao redor da universidade - e tudo pareceu meio morto. Era uma quarta feira, dei um desconto.

Sem muitas esperanças resolvi voltar pro hotel. Subindo a ruela de pedra vi portas grafitadas durante o dia se transformaram em bares bacanas à noite. E ali o negócio parecia melhor.
Entrei em um que dava de frente pro hotel. O som alto dificultou a comunicação com o barman e então só apontei pro cartaz da Karlovačka.

Munido, engatei um papo com um casal de jovens que pareciam melhores amigos e que responderam envergonhados a minha pergunta de que não havia muita coisa rolando na cidade naquela noite. 
Como estávamos sentados em bancos de madeira (desses parecido com os de praça) no lado de fora do bar que tinha como piso lajotas de mármore brilhosa que refletiam a luz da lua, pedi mais uma rodada. Papo embalado, algumas aulas de palavrões em croatas, explicações que Porto Alegre não tem nada a ver com o Rio de Janeiro e o garçom apareceu oferecendo a saideira e cortando o nosso barato. Não recusamos e brindamos a promessa de reencontro.


Clube Experiência - Como de costume fiz um monte de pesquisa sobre o país e sabia que a comida Dálmata tinha influência mediterrânea. Como não sou fã de nenhum fruto do mar, sabia também que passaria um pouco de trabalho. Estava viajando com um amigo polonês que come até pedra. Na rua de trás do hotel havia vários restaurantes bacanas e estávamos procurando um com cara de local.
Até que um som se sobressaiu mesmo tendo ao lado um bar de karaokê. Voltamos dois passos para conferir e era uma cantina com a porta entre aberta. O dono estava no caixa e quando nos viu tirou o cigarro da boca e respondendo minha pergunta disse que estava aberto sim, no entanto, estavam tendo festa. Se não nos importássemos com o barulho poderíamos entrar.  Meu amigo faminto retrucou um "tô com fome" e eu mais que ligeiro entrei pra  ver que festa era essa.
O dono chamou o garçom que nos explicou o cardápio e logo pedimos três pratos que seria pra dividirmos e fazer um prova- prova: massa à carbonara com um bacon defumado como nos tempo Diocleciano, uma pizza recheada com queijo Pag (feito com leite de ovelhas que recebem uma dieta balanceada por toda a vida à base de ervas mediterrânea para apurar o sabor da iguaria...é mole?), o famoso presunto tipo parma dessalgado (não encontro o nome em nenhuma das minhas anotações, desculpe) e azeitonas (o país é colorido por oliveiras) e mais uma risoto de frango à Maraschino. 
Pra beber, um vinho local das videiras da ilha de Vis, sugestão do dono que foi quem trouxe a bebida. Sem pestanejar perguntei a ele qual era a ocasião da festa. Com sorriso no rosto ele disse que era aniversário de 30 anos de casamento do melhor amigo dele.  Emendei outra pergunta sobre que tipo de música era aquela. Antes de responder ele acendeu um cigarro e aí soltou: isso é nossa música, música daqui. Essa música daqui que ele comentou era cantada em Dálmata, língua que os jovens só sabem que existem pelos livros.
 E todos ali na casa dos 50 pra cima cantavam aquelas canções com olhos fechados e copo de vinho na mão. Uma mulher, em especial, com mais ou menos uns 45 anos, vestida de preto com azul e com cabelo na altura do queixo; intercalava na mão direita ora o cigarro ora a taça de vinho. E como num estado de levitação ela cantava com altura suficiente pra alma ouvir. Aquelas canções com sotaque italiano e com batidas de música sertaneja beeeem romântica preenchia o coração do casal aniversariante, dos amigos e o meu.
A cozinha encerrou os trabalhos, o dono encostou de vez a porta de entrada e com cigarro na boca nos trouxe mais uma jarra de vinho. E ficamos ali como se fossemos parte do grupo, unidos pela emoção que a música pode proporcionar.
A única foto da cantina que eu não anotei o nome

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