Existe maneira melhor de
conhecer a cultura de um povo senão através da música?
Nas palavras escolhidas
para compor uma melodia está um retrato do cotidiano, de uma época e de uma
sociedade.
O fado é a carteira de
identidade dos portugueses. Há mais de duzentos anos retrata os contextos
urbanos desse povo. Com letras recheados de um saudosismo e de um amor teatral,
ora pincelado por fatos políticos, se transformou em um espelho dos
tempos.
"O Fado" de João Malhoa (1910) |
Nascido em Lisboa, mas precisamente nos bairros populares de Alfama, Moraria e Martim
Muniz; era o chamariz para os momentos de convívio e de lazer, principalmente,
entre as classe chamadas mais baixas como os trabalhadores e os marinheiros que não dispensavam um “copo”
nas casas de meretrizes. Rejeitado pela intelectualidade
portuguesa pelo caráter profano fica à margem até o Conde de Vimioso se envolver
com Maria Severa Onofriana, uma meretriz consagrada pelos seus dotes de cantora
que se transformou em um mito na comunidade fadista.
Com a entrada do século vinte
o fado passa a uma consagrada e gradual divulgação popular que foi abalada pelo
golpe militar de 1927. Mas ainda assim, mídias como o teatro de revista e o
rádio colocaram o estilo musical em outro patamar. O fado começa a ser estrela.
Poetas
da elite portuguesa escrevem letras e mais letras de fado e Amália Rodrigues se
consagra como a maior estrela fadista de todos os tempos por cantar o fado que
a maioria de nós conhecemos hoje.
Amália Rodrigues e Domingos Cariminha (México, 1964). Fonte Museu do Fado |
A revolução de abril de 1974
trouxe a democracia e a globalização e o fado perde espaço no mercado português.
E entre as décadas de 1980 e 1990, Mariza, uma caboverdiana, destaca-se como o
símbolo dessa cultura que não pode morrer.
Mariza, com cabelos curtos e loiro, no alto."Não me considero fadista", diz ela. "Sou uma contora popular" |
E fica a ela e a outras bandas e cantores a missão de representar esse legado do país no
mercado local e estrangeiro.
Onde aprendi tudo isso? No Museu
do Fado, que desde 1998, entrou na batalha de ser tornar o espaço alusivo a
esse símbolo identificador de Portugal.
Ali esta detalhes do nascimento do gênero,
o processo de midiatização, a importância da guitarra portuguesa, a bibliografia
dos artistas e muitas outras curiosidades. O circuito museológico levou em conta
a imaterialidade do “produto” e por isso tem um forte componente multimídia que
deixa a visita ainda mais interessante.
Mapeando
Onde fica: Largo do Chafariz
de Dentro, n°1.
Metro e Camboio – Estação Santa
Apolônia.
Ônibus - 728, 735, 759, 794.
Caminhando da Avenida Augusta
uns 15 minutos.
Quanto Custa: €5 inteira.
Reduzida – Estudantes menores
de 14 anos, maiores de 65 anos.
Aceitas algum passe de
desconto? Lisboa Card
Horário de funcionamento: Terça a domingo das 10h às 18h
Outras informações : Site do Museu do fado
Como promoção de volta “a vida
normal”, após o verão, o museu promoveu uma série de visitas guiadas cantadas.
Agendei a minha por e-mail e por pouco mais de trinta minutos uma guia
rapidamente apresentou o caminho de se descobrir melhor o museu.
Pra fechar com chave de ouro uma fadista cantou quatro músicas que transportou todos ali para uma casa de meretriz do século passado. Vale a visita. E pra te deixar com água na boca um vídeo da Mariza, que por sinal assisti a um concerto dela ao vivo no dia 05 de outubro, comemoração do dia da República portuguesa na praça do Martim Muniz.
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