21.10.12

Museu do Fado: retrato português

Existe maneira melhor de conhecer a cultura de um povo senão através da música?
Nas palavras escolhidas para compor uma melodia está um retrato do cotidiano, de uma época e de uma sociedade.
O fado é a carteira de identidade dos portugueses. Há mais de duzentos anos retrata os contextos urbanos desse povo. Com letras recheados de um saudosismo e de um amor teatral, ora pincelado por fatos políticos, se transformou em um espelho dos tempos.

"O Fado" de João Malhoa (1910)
Nascido em Lisboa, mas precisamente nos bairros populares de Alfama, Moraria e Martim Muniz; era o chamariz para os momentos de convívio e de lazer, principalmente, entre as classe chamadas mais baixas como os trabalhadores e os marinheiros que não dispensavam um “copo” nas casas de meretrizes. Rejeitado pela intelectualidade portuguesa pelo caráter profano fica à margem até o Conde de Vimioso se envolver com Maria Severa Onofriana, uma meretriz consagrada pelos seus dotes de cantora que se transformou em um mito na comunidade fadista.
 

Com a entrada do século vinte o fado passa a uma consagrada e gradual divulgação popular que foi abalada pelo golpe militar de 1927. Mas ainda assim, mídias como o teatro de revista e o rádio colocaram o estilo musical em outro patamar. O fado começa a ser estrela.
 
 
 
Poetas da elite portuguesa escrevem letras e mais letras de fado e Amália Rodrigues se consagra como a maior estrela fadista de todos os tempos por cantar o fado que a maioria de nós conhecemos hoje.
Amália Rodrigues e Domingos Cariminha (México, 1964). Fonte Museu do Fado
A revolução de abril de 1974 trouxe a democracia e a globalização e o fado perde espaço no mercado português. E entre as décadas de 1980 e 1990, Mariza, uma caboverdiana, destaca-se como o símbolo dessa cultura que não pode morrer.
 
Mariza, com cabelos curtos  e loiro, no alto."Não me considero fadista", diz ela. "Sou uma contora popular"
 
E fica a ela e a outras bandas e cantores a missão de representar esse legado do país no mercado local e estrangeiro.
Onde aprendi tudo isso? No Museu do Fado, que desde 1998, entrou na batalha de ser tornar o espaço alusivo a esse símbolo identificador de Portugal.
 
 

Ali esta detalhes do nascimento do gênero, o processo de midiatização, a importância da guitarra portuguesa, a bibliografia dos artistas e muitas outras curiosidades. O circuito museológico levou em conta a imaterialidade do “produto” e por isso tem um forte componente multimídia que deixa a visita ainda mais interessante.
 
Mapeando
Onde fica: Largo do Chafariz de Dentro, n°1.
Metro e Camboio – Estação Santa Apolônia.  
Ônibus - 728, 735, 759, 794.
Caminhando da Avenida Augusta uns 15 minutos.
 
Quanto Custa: €5 inteira.
Reduzida – Estudantes menores de 14 anos, maiores de 65 anos.
 
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Horário de funcionamento: Terça a domingo das 10h às 18h
 
Outras informações : Site do Museu do fado
 
Clube experiência
Como promoção de volta “a vida normal”, após o verão, o museu promoveu uma série de visitas guiadas cantadas. Agendei a minha por e-mail e por pouco mais de trinta minutos uma guia rapidamente apresentou o caminho de se descobrir melhor o museu.
 
Pra fechar com chave de ouro uma fadista cantou quatro músicas que transportou todos ali para uma casa de meretriz do século passado. Vale a visita. E pra te deixar com água na boca um vídeo da Mariza, que por sinal assisti a um concerto dela ao vivo no dia 05 de outubro, comemoração do dia da República portuguesa na praça do Martim Muniz.
 
 

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