6.11.12

O charme da Confeitaria Nacional

Com o frio  que vem  mudando a configuração do rio Tejo nada melhor do que descobrir  as muitas pastelarias (pastelaria aqui, diferente do Brasil, não é uma casa de venda de pastéis e sim algo semelhante a nossa padaria) espalhadas por todos os lados de Lisboa.
 
Fachada da Nacional com o Castelo de São Jorge de fundinho
 
Para abrir a temporada com chave de ouro decidi começar pelo “início” e a pedida, então, não poderia ser outra se não a Confeitaria Nacional, fundada em 1829, pelo confeiteiro Baltazar Rodrigues Castanheiro e uma das mais famosas da cidade.
 
O interior imperialista abarrotado de gente
A fama vem de muito longe: pelos  tracionais  gabinetes no andar superior  onde se reuniam a nata lisboesta, a indicação como fornecedora oficial da Casa Real, o vanguardismo de ser um dos primeiros estabelecimentos a ter iluminação a gás e telefone (o aparelho ainda esta no local) e, claro, ter a melhor oferta de quitutes de comer chorando como os bolinhos de amêndoa, de ovos  e os sortidos.


Como adoro os scones à escoceses decidi provar o português. E pra não fugir à regra de outros broas e pães,  a receita daqui leva farinha de milho na composição o que deixa parecido com bolo de fubá.E pra acompanhar uma "meia de leite de café de máquina".
 
 
O conceituado Bolo Rei português nasceu ali. Na mala vindo de Paris,  Baltazar Junior, sucessor do pai; trouxe a receita que virou clássica para ser degustada entre o Natal e o dia dos Reis.
 
No cartaz diz que o Bolo Rei já esta a venda
Hoje, como mais de 180 anos, continua na mão da mesma  família e mantém inalterada a tradição de casa de chá que ainda servem scones em plena atmosfera real.
 



Mapeando
Onde – Praça da Figueira  18B, na esquina da Rua Correeiros. Pertinho da Praça do Rossio.
 
Horários – Todos os dias, das 8h às 20h.
 
Média de preços – scone e xícara de café com leite por €2,75. As especialidades da casa têm preços individuais e diferenciados.
 
Clube Experiência - Como tudo que é famoso e no Centro está sempre lotado de turistas (e quando digo lotado é bem lotado, incluindo os dois andares) as mesas têm rotação muita rápida, já que turista esta sempre com o roteiro cheio e a ideia é provar um doce de ovos e seguir pro próximo ponto. Melhor pra quem quiser sentar-se numa mesa a beira da janela e ver a vida passar pelo lado de fora enquanto toma seu café e lê o Público. Para isso, escolha seu lugar no andar superior bem lá no fundo e saia  antes que os turistas acordem e invadam o lugar pra tomar café da manhã.
 
 
 
Clube vale a pena – Levar um saquinho cheio das guloseimas pra casa e comer enquanto lê "Cartas de Amor de Fernando Pessoa". O meu exemplar, diga-se de passagem, é da primeira edição de 1978 e ganhei de presente da minha irmã.
 
 
Nas páginas as trocas de cartas entre Pessoa e sua namorada Ophélia Queiroz, que no início da obra  fala uma pouco do jeito de ser do poeta.
“...Como eu era muito gulosa -  e ainda sou – e o Fernando sabia – o bem, muito bem, levava-me de presentes, muitas vezes, rebuçados e bombons. Dentro de uma caixa de bombons, um dia, encontrei estes versos:
Bombom é um doce
Eu ouvi dizer
Não que isso fosse
Bom de saber
O doce enfim
Não é para mim...”

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